CARTA ABERTA À República PORTUGUESA sobre a ilegitimidade do sistema de governação vigente, conhecido como democracia representativa
As
pessoas transmitem-nos mensagens que muitas das vezes nem sabem que o
fazem, dizem-nos qual é a sua ideologia política, o porquê, o
porque votam ou o porque não votam. Elas mostram-nos o seu
conhecimento, a sua ignorância, a sua indiferença ou a sua
preocupação. Elas revelam-nos como são manipuláveis,
influenciáveis ou inflexíveis.
O comportamento
humano não é assim tão complexo, ele pode é ser objecto de
múltiplas interpretações, dependendo dos interesses que as
fomentam. Se a isto acrescentarmos que em jogo estão enormes forças
ocultas de transformação e de manipulação, condicionando as
pessoas a comportamentos forçados, talvez isso é que por vezes
dificulta a sua interpretação.
Estas
eleições Europeias e Legislativas de 2019, revelaram-nos tanto que
só os mais distraídos ou aqueles que estão limitados por
condicionalismos políticos não conseguem vislumbrar os sinais.
Perceber os motivos que levam o povo a
votar ou a abster-se é uma tarefa simples pois os sinais do seu
comportamento são-nos revelados com clareza, basta para isso olhar
para os números. Esses sinais revelam-nos que muitos votam por
respeito aos partidos e ideologias, é como pertencer a um clube de
futebol, jamais se muda de clube. Alguns forçados por pressões
familiares, outros por pressões sociais, outros porque muitas vezes
votam, em desesperada fuga, a um mau desempenho do partido de que
sempre gostaram e não porque acreditam lá muito no que escolheram,
mas à falta de melhor. Muitos outros eleitores, por esse interior,
como temos conhecimento, que vão votar naquele partido que
“patrocina” o autocarro para os levar às urnas, e que lhes der
uns miminhos (esferográficas e bandeirinhas) de preferência com a
cor em que devem votar, (não vão eles ser analfabetos, burros ou
ignorantes). Também temos aqueles (cada vez menos) que ainda
acreditam em milagres, na vinda do D. Sebastião e em todo o tipo de
salvadores da pátria. Em suma, porque acreditam nas promessas dos
políticos, e em 45 anos de democracia representativa mesmo as
desilusões sendo inúmeras, por masoquismo continuam a fazê-lo, já
que ainda não lhes foi apresentada uma alternativa de regime melhor,
e tal como um prisioneiro que só lhe servem comida estragada não
tem alternativa melhor do que comer o que lhe dão, quem vota também
se resigna ao que tem, (a ilusão deste tipo de democracia).
Já os abstencionistas têm também
motivações diversas e uma delas não é mentira que muitos preferem
ir para a praia, para o campo ou ficar em casa a dormir, indiferentes
a tudo e a todos. Estes só percebem de futebol e é o futebol que os
faz vir para a rua, são completos inúteis para a sociedade e se
pagam impostos é porque são obrigados, democracia ou ditadura para
estes é igual desde que não os afecte. Mas outros abstêm-se porque
vão ficando cada vez mais informados, mais esclarecidos sobre como
funciona mal este tipo de democracia (democracia representativa), vão
se libertando das amarras sociais, familiares e partidárias e porque
cada vez vão ficando mais desiludidos com este sistema democrático,
estes cidadãos são abstencionistas que se interessam por política,
apenas querem outro sistema de governo e se não votam é por
retaliação ao que está mal. A verdade é que para estes
abstencionistas votar neste sistema e nestes políticos não é uma
atitude cívica muito menos democrática, para eles atitude cívica e
verdadeiramente democrática é votar em referendos ou petições.
Porque diabo haveriam de votar nestas eleições europeias se a
entrada de Portugal no Euro não foi referendada, se o memorando da
Troika não foi referendado?
Se é de Democracia que falamos, temos
de ler os sinais e eles dizem-nos que o Povo na sua maioria não está
bem, quererá a mudança do regime? Pensamos que sim!
Eis os factos que envergonham este
sistema de governação:
Tendo com conta o território
nacional, a abstenção foi de 45,49%. Juntando os círculos da
emigração, a abstenção das legislativas foi de 51,43%. No
estrangeiro, onde estavam inscritos 1,46 milhões de eleitores,
votaram 158 mil, o que corresponde a uma abstenção de 89,21%, já
nas europeias tinha sido de 99,04%.
208.284 é a soma das pessoas que
votaram em “pequenos partidos”, uma pequena quantidade de votos
colocados no lixo, porém mais do que os votos no partido PAN, ou
mais do que o Chega, Iniciativa Liberal, e o Livre, todos juntos. Que
consideração, este sistema político teve por esta gente?
Nem a mensagem dos 131.704 cidadãos
que votaram em branco a juntar aos 123.882 de votos anulados, este
sistema tenta perceber.
Se democracia quer dizer o direito do
povo de participar na determinação de seu próprio desenvolvimento
e futuro, são as constantes barreiras e limitações legais a esse
tipo de direitos criados pelos próprios sistemas políticos, que
infectam o seu propósito.
Os erros, os crimes, a corrupção, o
abuso de poder, são tantos os casos, que só por masoquismo o povo
continua a suportar tais sistemas
A Constituição da República
Portuguesa diz que a soberania, una e indivisível, reside no povo,
que a exerce segundo as formas previstas na Constituição, mas a
realidade é completamente diferente, essa soberania é um objectivo
democrático controlado pelos partidos políticos, facilmente
manipulável, pois só através dos partidos políticos, o povo pode
comunicar as suas vontades.
O Povo terá sempre de prestar
vassalagem aos partidos políticos, até quando pretende referendar
alguma questão, pois a relevância nacional que uma questão pode
ter para o povo, pode não ser a mesma para os partidos. Uma simples
questão pode do ponto de vista dos partidos políticos ser tão
inconveniente que fica condenada a nunca vir a ser referendada.
A lei vai ao ponto de proibir
iniciativas de referendo que envolvam, no ano económico em curso,
aumento de despesas ou diminuição de receitas do Estado previstas
no Orçamento.
A verdade é que em Portugal nunca foi
realizado qualquer referendo sobre questões europeias, cuja
realização foi sempre bloqueada pelos governantes, eles mesmos
auto-designados paladinos da democracia, e sem qualquer culpa no
assunto, antes parecendo que ex-primeiros-ministros e ex-presidentes
da república foram vítimas de forças e interesses ocultos que os
impediram de referendar assuntos tão importantes para o futuro do
povo português como o referendo sobre a Adesão à CEE, Tratado de
Maastricht, Tratado de Nice, Adesão ao Euro, Constituição
Europeia, ou o Tratado de Lisboa.
E agora, eis-nos chegados aqui, com a
vitória da abstenção, 51,43%
de portugueses consultados, evidenciaram total desinteresse, desânimo
e até repúdio pelo actual sistema governativo, sinal que o sistema
representativo chegou ao seu ponto de ruptura.
Analisando seriamente o problema,
devemos reconhecer que a Democracia Representativa é uma
degenerescência da Democracia, que está a coberto de uma estrutura
podre, corrompida e ultrapassada, conhecida como República,
dominando, cada vez mais, os Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário.
No ponto 3 do Artigo 275.º da CRP,
referente às Forças Armadas, diz que “as Forças Armadas obedecem
aos órgãos de soberania competentes, nos termos da Constituição e
da lei”, perguntamos então quais são os órgãos de soberania
competentes, quando 51.43% do povo não os legitimaram?
Também no mesmo artigo no ponto 4,
diz que “as Forças Armadas estão ao serviço do povo português,
são rigorosamente apartidárias e os seus elementos não podem
aproveitar-se da sua arma, do seu posto ou da sua função para
qualquer intervenção política”, perguntamos se assim é, será
que tal como recentemente, o presidente da Associação 25 de Abril,
coronel Vasco Lourenço, declarou que "o poder foi tomado por um
"bando de mentirosos"" e "apelou aos militares
para estarem ao lado da população caso se verifique repressão
policial nas ruas", as Forças Armadas defenderão o povo,
perante a grosseira usurpação do poder (numa extensão,
profundidade e gravidade nunca vistas) pelo Governo; bem como o
silêncio e conivência do Sr. Presidente da República sobre as
ofensas ao Estado de direito e à Constituição (CRP) mais
concretamente, o desrespeito pelo Artigo 2.º, que diz claramente “A
República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado
na soberania popular,
no pluralismo de expressão e organização política democráticas,
no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades
fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando
a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia
participativa.. “ ?
É que agora, perante 51,43% de
cidadãos que não apoiaram este sistema oligárquico, podemos
considerar que é uma minoria a impor esse mesmo sistema a uma
maioria e assim as graves violações de princípios democráticos e
as ofensas à CRP e ao Estado de direito, nomeadamente os abusos e o
autoritarismo, fica justificada a resistência pacífica: "Direito
de Resistência: Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem
que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela
força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à
autoridade pública (art.º 21 da CRP)."
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